quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Evolução sobre rodas
Não basta apenas construir ciclovias e estacionamentos para que a bicicleta seja considerada uma opção segura de deslocamento nas grandes cidades. É preciso o investimento da administração pública no sentido de desenvolver projetos para torná-la uma forma de transporte mais popular. Muita gente não usa bicicleta por causa da velocidade dos automóveis, conflitos com ônibus e pedestres e ausência de um espaço seguro para estacionar. É o que constatam ciclistas de carteirinha, como os paulistanos Renata Falzoni e Arturo Alcorta, que há tempos trocaram seus carros pelas bicicletas para circular pela cidade.
Renata confessa que se arrisca ao disputar espaço com os carros quando não dispõe de uma infra-estrutura segura. “Muita gente tem ‘bikefobia’ e não respeita o ciclista”, afirma. “É preciso mudar essa mentalidade.” Arturo, por sua vez, lembra que os defensores das bicicletas também precisam aprender a dirigir e usar equipamentos de segurança, seguindo as normas de conduta previstas no Código Nacional de Trânsito. “Bicicleta não é carro nem moto, mas também se trata de um meio de transporte que deve ter regras de utilização”, explica.
Dentro do conceito de mobilidade urbana sustentável, cada meio de transporte tem o seu lugar e as suas regras. A inserção da bicicleta, portanto, é possível desde que considerada como um dos elementos integrantes de um novo desenho urbano – com espaços adequados, vias de tráfego compartilhadas e, principalmente, o fim da cultura que privilegia o automóvel. Quem trabalha com o tema vê nessas ações em conjunto uma oportunidade de melhorar a qualidade de vida e a saúde dos moradores das grandes cidades.
Se isso não for feito, o futuro não é nada promissor, como constata Eric Amaral Ferreira, diretor da União dos Ciclistas do Brasil. “O trânsito das cidades brasileiras vai entrar em colapso em dez anos se não houver políticas públicas que priorizem os espaços para quem anda a pé, de bicicleta ou depende de ônibus e metrô”, prevê. “É preciso reservar áreas para esses meios de transporte, construir vias de acesso exclusivo, criar zonas de velocidade reduzida para carros.”
Cidades como Munique têm uma área especial onde os ciclistas se deslocam e os carros estão proibidos de estacionar ou até de encostar as rodas, enquanto se deslocam – e vice-versa. Não é permitido andar de bicicleta no espaço reservado aos automóveis. “Quando a cidade é preparada para quem pedala a cultura vai mudando e quem anda de carro aprende a respeitar não só os ciclistas mas também os pedestres. E isso vira estímulo para deixar o carro na garagem”, lembra Gisele Xavier, coordenadora do Grupo Ciclo Brasil, que reúne especialistas na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) para discutir esse meio de transporte. No Brasil inteiro, cidades com menos de 50 mil habitantes já aderem à bicicleta como seu principal meio de deslocamento. O desafio agora é aumentar o número de grandes metrópoles que façam parte desse grupo.
texto escrito por Débora Menezes.
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